Apesar do Bolsa Família ser um programa assistencialista há um cláusula para sua execução (dentre outras): as crianças da família que irá receber o benefício devem ser matriculadas na escola e manterem uma frequência na mesma. Interessante? Na teoria é extremamente interessante mas a prática deixa a desejar e enfraquece o recurso. De que adianta a criança estar na escola se os investimentos em educação são insuficientes? A falta de infra-estrutura, materiais, professores qualificados e o baixo desempenho dos alunos advindos desse sistema não são nenhuma novidade. Muitos inclusive são "alfabetizados", entre aspas que fique claro, que não conseguem compreender um texto simples, os chamados analfabetos funcionais.
É assim que a evolução ocorre? Injetando mais recursos em programas que fornecem o peixe mas não ensinam a pescar? Enquanto que onde uma importância maior deveria ser dispensada os investimentos são pífios. Explicando em linhas gerais, investir em educação fornece menos popularidade e consequentemente chances de uma reeleição por se tratar de um investimento com resultados a longo prazo, porém duradouros e o mais importante: necessários. É na base, na sustentação que as oportunidades e ensino de qualidade devem ser dados, para no futuro uma mão de obra qualificada dar lugar a boa parte do povo miserável que temos hoje. E não cito miserável ofensivamente, são apenas pessoas que não tiveram oportunidades quando mais novos e agora não tem mais chance, e o que resta é receber dinheiro do governo pela quantidade de filhos matriculados. Estes matriculados em escolas que seus pais frequentaram, ou seja, é um ciclo que se nada for feito continuara dessa forma.
Vamos a alguns dados. Existe um Plano Nacional de Educação (PNE) que determinava a erradicação do analfabetismo até 2010, mas vejam só, ainda existem 14 milhões de pessoas que não tem conhecimento de escrita e leitura (cerca de 10% da população acima de 15 anos). O relatório "Monitoramento de Educação para Todos 2010", lançado pela UNESCO, alega que a educação no Brasil apresenta altas repetências e baixos índices de conclusão do ensino básico. No Brasil o índice médio de repetência é de 18,7% enquanto que nos outros países da América Latina gira em torno de 4,4%.
Uma observação a ser feita: o site do MEC (Ministério de Educação e Cultura) tem uma péssima ferramenta de busca, seria uma tentativa de maquiar essas informações (que todos deveriam ter acesso de forma fácil e rápida)? Mas antes que alguém vá reclamar ao MEC, é importante lembrar que não é ele que determina o investimento e sim a área econômica.
Outros dados interessantes são encontrados no “Financiamento da Educação no Governo Lula”, do advogado Salomão Ximenes. A situação da educação é mais crítica ainda se comparada com outros investimentos governamentais, o pagamento de juros da dívida foi duas vezes maior.
O investimento ideal seria entre 8 e 12% do PIB, e o real oscila pouco e em 2008 alcançou 4,7%. A lei estipula que 18% da receita de impostos obrigatoriamente deve ser gasta com a manutenção e desenvolvimento do ensino, mas vigorou entre 1994 e final de 2007 um mecanismo, a Desvinculação das Receitas da União [DRU], que fornecia 20% dos investimentos em educação para serem gastos em outros programas e despesas que o governo achar prioritários. O que era 18% passou a menos de 14%. Foi calculado pela Universidade de São Paulo (USP), contida no estudo Custo Aluno-Qualidade, que mais de R$ 70 bilhões de reais deixaram de ser investidos na área da educação nos último 12 anos por conta desse mecanismo.
Mas felizmente no fim de 2007, em um acordo no senado entre governo e oposição, a DRU foi abolida, porém seus resultados virão gradualmente a alíquota que era de 20% cai para 12,5% no exercício de 2009 e 5% em 2010, e apenas em 2011 o Brasil estará livre desse desrespeito. Agora resta esperar que nosso próximo governante saiba como administrar essa liberdade.
Mas toda essa questão nos leva a uma maior, quanto tempo o Bolsa Família pretende perdurar? Não seria uma melhor estratégia (para a sociedade) que os investimentos se dirigissem para a educação básica e assim no futuro bolsas não serão mais necessárias?
Bom artigo, pode-se pegar o japão como exemplo de investimento em educação, pois pela geografia o país não possui recursos minerais por ser uma formação vulcânica, mas mesmo assim sobrevive plantando arroz e exportando mão-de-obra e tecnologia. (Isso explica o fato de o godzilla sempre atacar tokio, raiva de japonês que roubou o emprego do seu pai e da sua mãe numa grande firma de tecnologia)
ResponderExcluir"De que adianta a criança estar na escola se os investimentos em educação são insuficientes?" Apoiadíssima. E nem precisa de números para comprovar que a chave, em prioridade, é a educação de qualidade.
ResponderExcluirHá quem diga que os investimentos são poucos propositalmente. O governo precisa de gente burra para conseguir continuar persuadindo, continuar iludindo que a situação está boa como está. E, pelo mesmo motivo, o voto ainda não é facultativo. A ignorância alimenta os populistas. Tudo isso "supostamente", é claro.
Bom post.
ResponderExcluirNão é interessante aos governantes que essa situação mude, o quanto eles puderem protelar qualquer tipo de investimento (útil) na educação eles irão.
Ia escrever um post-comment mas tenho que ir fazer a prova, continue escrevendo, beijo
Eu vou passar um dado que talvez você não conheça. Existem vários cursos profissionalizantes que envolvem o Bolsa Familia e os que recebem ele:
ResponderExcluir"Beneficiários do Bolsa Família participam de cursos profissionalizantes"
http://www.fomezero.gov.br/noticias/beneficiarios-do-bolsa-familia-participam-de-cursos-profissionalizantes/?searchterm=benefici%C3%A1rio
É interessante também lembrarmos outras coisas:
Ensino fundamental é de responsabilidade municipal e ensino médio é estadual. Acontece muitas vezes que o dinheiro nessas esferas é mal utilizado, ou até repasses federais são mal aplicados. O que precisa haver é fiscalização e eficiência na hora de usar o dinheiro para a educação.
E ao que se dá a falta de fiscalização? Não seria na falta de interesse do governo como um todo? Logo voltamos a primeira idéia.
ResponderExcluirO investimento em educação é necessário, sim. Mas como as crianças estudarão sem ter o que comer? Muitas escolas públicas fornecem a única refeição que a criança come no dia. A meu ver, o dinheiro deve ser melhor distribuído entre os dois programas, o Bolsa Família e o de investimento na educação.
ResponderExcluirMas Anna o certo não é dar o dinheiro através do bolsa familia, mas que essas pessoas pudessem se sustentar com sua própria força de trabalho, tem que ensina-las a pescar(Citado no artigo). Só que para isso elas precisam estar qualificadas, com a escolaridade completa e tendo acesso a cursos técnicos e isso só será possível com grande investimento em educação.
ResponderExcluirInvestindo em educação criam-se pessoas capazes de sustentar-se financeiramente e ideologicamente.
Ensinar a pescar ..
ResponderExcluirMas e até que essas pessoas aprendam a pescar, irão elas se sustentar com energia solar ?
Não acho legal falar em Bolsa Família x Investimentos em educação, pelo menos por enquanto eles tem que andar juntos. O número escolas federais profissionalizantes nunca foi tão grande, mas como a Lena disse no post, os resultados não serão vistos agora. Até que algo se construa, é preciso dar milho aos pombos.
Concordo, mas acho que deve-se tirar o foco midiático ao bolsa familia, para justamente ir desculturalizando esse beneficio. E focar na divulgação da educação e do emprego. E também é aquilo... Se você colocar na sua janela a comida pro passarinho ele vai te procurar sempre e provavelmente cagar na saida. Acredito que o truque seja ir diminuido o investimento na bolsa familia e ir aumentando na educação.
ResponderExcluirConcordo com o Yuri. Ninguém vai anular o Bolsa Família de uma hora pra outra senão vai ser espancado pelos beneficiários. Tem que ser gradativamente abolido. Fora que como a Helena diz, o projeto é muito interessante, mas não com a falta de investimento na educação. É como uma obrigação ao seu filho ter uma precária educação em troca de recursos para a família. E obviamente os beneficiários não tem culpa. Vão fazer o quê? Recusar a oferta? Não tem outro lugar para botar o filho mesmo, sem recurso pra escola particular (famílias com renda mensal de até R$ 140). É um mal necessário. E por enquanto, como vimos em O Rei Leão, será um ciclo sem fim.
ResponderExcluirAté que Cristovam Buarque seja eleito nosso presidente. hoihoih :)
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