segunda-feira, 24 de maio de 2010

O jeitinho Vox Populi


Pra quem não sabe, Vox Populi é uma empresa de pesquisa de mercado e opinião pública (assim como Datafolha, Ibope e Sensus) que elabora diversas pesquisas, entre elas as eleitorais. Não entrando no mérito das outras empresas semelhantes, irei analisar nesse post o método e a pesquisa, no mínimo, duvidosa da citada empresa.
A última pesquisa, aponta a candidata do PT, Dilma Rousseff com 3% de vantagem sobre seu adversário tucano, ao contrário do empate que outras pesquisas apontam (com a margem de erro incluída). Para redigir esse post, eu comparei as três pesquisas já realizadas pelo Vox Populi, nas seguintes datas: 24/01/2010, 03/04/2010 e 15/05/2010. Será uma leitura um pouco mais técnica mas acredito que valha a pena atentar para certas informações. As informações obtidas estão disponíveis para livre acesso no site da própria empresa http://www.voxpopuli.com.br/
Nas duas primeiras pesquisas, as cidades escolhidas na região Centro-Oeste do país foram exatamente as mesmas [que são: CASTELANDIA (GO), FORMOSA (GO), GOIANIA (GO), INHUMAS (GO), SIDROLANDIA (MS), CUIABA (MT) e UNIAO DO SUL (MT)]. Já na última pesquisa, as cidades mudaram permanecendo apenas Brasília, Goiania e Cuiabá as respectivas capitais de Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso. Não sou uma grande entendedora de estatística e amostragem de pesquisas mas o que sei é que as cidades geralmente são escolhidas randomicamente, para garantir uma colheita de informações de maior alcance, modificando as cidades em cada nova pesquisa, excetuando-se as capitais e municípios de grande importância para determinada região que são sempre pesquisados. Partindo desse pressuposto é no mínimo duvidosa essa mesma escolha de cidades nas duas primeiras pesquisas, mas continuemos com outras regiões.
Na região Nordeste, na primeira pesquisa foram 39 municípios e na segunda o número cai para 34, e entre elas apenas 9 municípios diferem enquanto que cidades pequenas (que beiram os 30.000 habitantes apenas) foram incluídas em ambas, como exemplo temos: Capistrano, Matinha, Nísia Floresta e Sento Se. Na terceira pesquisa houve uma mudança nas cidades mas algumas eram as mesmas que as da primeira ou segunda pesquisa, sendo extraordinário o caso da pequena Marizópolis, localizada na Paraíba, que com a população estimada em torno de 7.000 habitantes foi incluída nas três pesquisas!
Já na região Norte, como já ocorreu nas anteriores, nos dois primeiros levantamentos as 9 cidades eram também exatamente as mesmas. E no terceiro 3 dessas 9 se manteram iguais, sendo as outras modificadas.
Na região Sudeste o mesmo comportamento se repetiu nas primeiras pesquisas e as 46 cidades eram as mesmas em ambas. E a cidade de Igaratá , em São Paulo, que possui 9.000 habitantes, de forma impressionante conseguiu ser sorteada nos três levantamentos!
E por fim, na região Sul apenas duas cidades diferem, Tramandai foi trocado por Taquara (RS) na segunda pesquisa. E tem outros exemplos extraordinário como o de Marizópolis e Igaratá! Capão do Leão (localizada no Rio Grande do Sul, possui em torno de 25.000 habitantes) e Castro (no Paraná, com 68.000 habitantes) também foram incluídas nas três pesquisas.
A Vox Populi, escreve na apresentação de suas pesquisas que: "3 - POPULAÇÃO PESQUISADA
População brasileira com idade superior a 16 anos, residente e eleitora em todos os estados brasileiros (exceto Acre, Amapá e Roraima) e no Distrito
Federal, em áreas urbanas e rurais, de todos os segmentos sócio-econômicos e demográficos". Todos os segmentos demográficos? Não é o que parece, com tantas cidades repetidas assim.
Teria isso tudo relação com o dono da empresa em questão ser Marcos Coimbra, que falou em uma entrevista a revista Carta Capital, lançada no dia 11/01/2010, as seguintes afirmações: “Se, de um lado, estava Serra, ministro por oito anos de Fernando Henrique e seu adversário em 2002, do outro estaria alguém que representasse seus oito anos e que o defenderia do inimigo.”;
“A verdadeira escolha dos eleitores seria entre FHC e Lula, pois Serra seria apresentado como … um antigo auxiliar do ex-presidente.”; “… se as coisas acontecerem dentro do que espera, 2010 tem tudo para ser um bom ano para Lula.”.
Lembrando que a Carta Capital nunca escondeu suas posições, deixando claro em seus editoriais sua postura contrária ao liberalismo econômico e seu apoio às candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e em 2006. E considerando que uma parcela considerável da receita da revista provém de anuncios de empresas estatais e do governo federal.
Obs: Na pesquisa de 15/05, 33% dos entrevistados afirmaram que votariam em quem o candidato Lula apoiasse contra 30% que votaria dependendo de quem fosse o candidato. Ou seja, eles não se interessam por pesquisar quem tem as melhores propostas, apenas confiam cegamente em Lula. Foi perguntado também se eles haviam conversado sobre política na última semana e, vejam só, 78% respoderam negativamente. É assim que se elege um presidente?
Sem contar quando perguntados sobre a simpatia com algum partido, 16% deles afirmam simpatizar com o PT enquanto que 4% com o PSDB e na mesma porcentagem o PMDB. Resta a dúvida, como se considerar simpatizante de um partido se nem ao menos você discute sobre este e seus governantes?



terça-feira, 11 de maio de 2010

Quem não tem cão caça com gato

Resolvi fazer um post sobre esse assunto a partir de um comentário feito em minha aula de Introdução ao Jornalismo hoje sobre um acontecimento atual, mais especificamente de ontem. Ao ceder uma entrevista para a Rádio CBN o pré-candidato a Presidência da República Jose Serra irritou-se ao responder uma pergunta feita pela colunista de economia do jornal O Globo, Míriam Leitão, sobre a autonomia e atuação do Banco Central. Mas nesse momento não vou entrar no mérito da pergunta e o porque da irritação, apenas quero aproveitar o acontecido para comentar sobre como a imprensa pode ajudar ou atrapalhar um candidato.
De início, é preciso pensar de forma coerente e realista, e por mais que alguns teimem em clamar pela imparcialidade ao escrever artigos jornalísticos, não se iludam: ela não existe. O que existe é uma tentativa de ser o mais equilibrado e imparcial possível mas ao escrever algo não há como escapar de estar ali contido algum resquício de nossa opinião. Partindo desse pressuposto, podemos agora sim entrar no âmbito da questão. A imparcialidade não existe, mas se aproveitar dessa realidade para promover opiniões e interesses próprios não é a mesma coisa.
Assim como existem revistas e jornais que beneficiam Serra, o mesmo ocorre também com Dilma. O azar é que os que se prezam a o fazer por Dilma não tem tanta divulgação e vendagem quanto aos que ajudam seu adversário. Vamos entender como esse fenômeno ocorre tendo como exemplo o pequeno erro de Serra ao se irritar. Os jornais e revistas que o apoiam não tem como não divulgar a informação, porque foi ouvida por milhões de pessoas e também se não o fizerem seus concorrentes o farão, mas tem como amenizar ela, e é isso que acontece. Os escorregões de Dilma, pelo contrário, são utilizados a exaustão, gerando manchetes e notícias por mais do que o necessário para a assimilação. Claro que as declarações do acessores de campanha da própria pré-candidata ajudam a amplificar essa questão, pois eles próprios admitem a dificuldade dela na sua pré-campanha. Mas os jornais se aproveitam da situação não apenas divulgando algo que ocorreu mas também exaltando e induzindo o leitor, através de certas expressões e suposições, a acreditar nas más intenções e incapacidade de governar da escolhida de Lula.
É certo? Se é ou não é uma questão de opiniões. O fato é que qualquer veículo de mídia impresso, que trate de política também, tem uma tendência, pequena ou grande, a algum partido ou ideologia. Resta ao público saber perceber essas nuances e escolher o que é concomitante com seus próprios gostos. E mesmo sabendo que tal jornal pensa de forma similar, saber reconhecer quando é de fato certo o que é lido e quando não passa de exagero eleitoral, é essencial. Cada um deve formular suas opiniões de acordo com as informações adquiridas e o discernimento que faz destas, através de uma percepção racional.
Falando um pouco mais sobre o azar de Dilma, essa talvez não seja a palavra correta. A expressão "Quem não tem cão caça com gato" se adequa melhor. Apesar de não ter o apoio da grande imprensa, a "mãe do PAC" tem um poderio se não igual ainda maior, o do Presidente Lula, que faz uma campanha clara, e contra a lei eleitoral, utilizando a máquina pública para promover sua pupila. Apesar de já ter sido multado algumas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, (em valores como $5.000 e $10.000) o Presidente ainda ironiza esse orgão regulador. Como se o Presidente não fosse uma figura pública e o que mais deveria obedecer as leis, como um exemplo para a população, não contente em não cumpri-las ainda ironiza um orgão do próprio governo. Então chegamos a mesma questão, mas por um motivo diferente; é certo? Apesar do motivo diferir, a resposta continua sendo a mesma. Aliás, com quase qualquer questão é assim que o mundo funciona, opinião.
Primeiro adendo a ser feito. Ao procurar por "Lula ironiza" no Google, encontram-se aproximadamente 4.470.000 resultados. Presidente ironizador o nosso, não?
Segundo adendo. Recomendo ler o Editorial do jornal O Globo do dia de hoje (11/05/2010), fala exatamente sobre a questão da educação que comentei no último post.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bolsa Família x Investimentos em Educação

Apesar do Bolsa Família ser um programa assistencialista há um cláusula para sua execução (dentre outras): as crianças da família que irá receber o benefício devem ser matriculadas na escola e manterem uma frequência na mesma. Interessante? Na teoria é extremamente interessante mas a prática deixa a desejar e enfraquece o recurso. De que adianta a criança estar na escola se os investimentos em educação são insuficientes? A falta de infra-estrutura, materiais, professores qualificados e o baixo desempenho dos alunos advindos desse sistema não são nenhuma novidade. Muitos inclusive são "alfabetizados", entre aspas que fique claro, que não conseguem compreender um texto simples, os chamados analfabetos funcionais.
É assim que a evolução ocorre? Injetando mais recursos em programas que fornecem o peixe mas não ensinam a pescar? Enquanto que onde uma importância maior deveria ser dispensada os investimentos são pífios. Explicando em linhas gerais, investir em educação fornece menos popularidade e consequentemente chances de uma reeleição por se tratar de um investimento com resultados a longo prazo, porém duradouros e o mais importante: necessários. É na base, na sustentação que as oportunidades e ensino de qualidade devem ser dados, para no futuro uma mão de obra qualificada dar lugar a boa parte do povo miserável que temos hoje. E não cito miserável ofensivamente, são apenas pessoas que não tiveram oportunidades quando mais novos e agora não tem mais chance, e o que resta é receber dinheiro do governo pela quantidade de filhos matriculados. Estes matriculados em escolas que seus pais frequentaram, ou seja, é um ciclo que se nada for feito continuara dessa forma.
Vamos a alguns dados. Existe um Plano Nacional de Educação (PNE) que determinava a erradicação do analfabetismo até 2010, mas vejam só, ainda existem 14 milhões de pessoas que não tem conhecimento de escrita e leitura (cerca de 10% da população acima de 15 anos). O relatório "Monitoramento de Educação para Todos 2010", lançado pela UNESCO, alega que a educação no Brasil apresenta altas repetências e baixos índices de conclusão do ensino básico. No Brasil o índice médio de repetência é de 18,7% enquanto que nos outros países da América Latina gira em torno de 4,4%.
Uma observação a ser feita: o site do MEC (Ministério de Educação e Cultura) tem uma péssima ferramenta de busca, seria uma tentativa de maquiar essas informações (que todos deveriam ter acesso de forma fácil e rápida)? Mas antes que alguém vá reclamar ao MEC, é importante lembrar que não é ele que determina o investimento e sim a área econômica.
Outros dados interessantes são encontrados no “Financiamento da Educação no Governo Lula”, do advogado Salomão Ximenes. A situação da educação é mais crítica ainda se comparada com outros investimentos governamentais, o pagamento de juros da dívida foi duas vezes maior.
O investimento ideal seria entre 8 e 12% do PIB, e o real oscila pouco e em 2008 alcançou 4,7%. A lei estipula que 18% da receita de impostos obrigatoriamente deve ser gasta com a manutenção e desenvolvimento do ensino, mas vigorou entre 1994 e final de 2007 um mecanismo, a Desvinculação das Receitas da União [DRU], que fornecia 20% dos investimentos em educação para serem gastos em outros programas e despesas que o governo achar prioritários. O que era 18% passou a menos de 14%. Foi calculado pela Universidade de São Paulo (USP), contida no estudo Custo Aluno-Qualidade, que mais de R$ 70 bilhões de reais deixaram de ser investidos na área da educação nos último 12 anos por conta desse mecanismo.
Mas felizmente no fim de 2007, em um acordo no senado entre governo e oposição, a DRU foi abolida, porém seus resultados virão gradualmente a alíquota que era de 20% cai para 12,5% no exercício de 2009 e 5% em 2010, e apenas em 2011 o Brasil estará livre desse desrespeito. Agora resta esperar que nosso próximo governante saiba como administrar essa liberdade.
Mas toda essa questão nos leva a uma maior, quanto tempo o Bolsa Família pretende perdurar? Não seria uma melhor estratégia (para a sociedade) que os investimentos se dirigissem para a educação básica e assim no futuro bolsas não serão mais necessárias?

Apresentação

Desejo com esse blog treinar minha habilidade escrita e compartilhar conhecimentos e opiniões sobre esse assunto do qual eu gosto tanto: política. Podem fazer comentários a vontade, contanto que o respeito e bom senso sejam mantidos.
O nome foi o maior problema, parece que existem já hospedados no blogger todos os nomes interessantes e criativos ligados a política, mas em um lapso de criatividade (ou não) resolvi criar um nome que remetesse a República das Bananas, porque aqui não é Honduras mas a corrupção está quase igual.
Gostaria de ter a inspiração, criatividade e dom que alguns tem para a poesia, mas já que não é possível resolvi me ater ao que também gosto muito e acredito ter um conhecimento interessante sobre. A política sempre me pareceu incrível, com todo o seu poder e importância para a sociedade. Claro que no começo eram tudo flores, até que começa-se a entender os truques e jogos de interesse por trás das cortinas. Na política tudo é interesse, isso é fato, mas ainda acredito que alguns tenham nesses interesses uma melhoria para a sociedade e não para os próprios bolsos (ou de familiares, quem sabe).
Bom, esse post é apenas uma pequena apresentação, mais outros virão e nesses é que vocês poderão julgar se querem, ou não, ler o que tenho a escrever. Pretendo fazer uma avaliação crítica, dos mais variados assuntos relacionados, mas tentando ao máximo basea-la em dados verdadeiros.